Há cães com muita sorte e há gente muito canina
Três da tarde, o trabalho decorria normalmente, toca o telefone e ela atende.
- Sim…?
- …
- Ai meu Deus!!
- …
- Mas quando é que isso foi??!!
- …
A voz angustiada tinha-nos posto a todos atentos, mas preocupação a sério foi quando ela desligou, deslizou para o chão alcatifado e rompeu num pranto convulsivo.
Que drama teria acontecido? Quem teria morrido?
Levantámo-la do chão, tentámos animá-la, mas ela estava inconsolável e mal conseguia falar.
- É-é-éra o me-me-meu ma-marido… Buaaaaaá…
- Mas o que foi, mulher, que aconteceu??!!
- O me-me-meu Piruças fugiu… Buaaaaaá…
- Como??!!
- O me-me-meu cã-cã-cãozinho… Buaaaaá… Sal-saltou o muro… Buaaaá.
Curiosamente, enquanto a mim me ocorria vergastá-la, todos os outros lhe davam miminhos, com a preocupação estampada nos rostos.
Foi-se embora a correr, ainda em prantos.
O Piruças voltou a casa algumas horas depois.
No dia seguinte chegou ao trabalho com a cara macerada e um ar exausto, não tinha dormido nada, “só de pensar que o meu Piruças podia nunca ter aparecido”.
E continuou a ser mimada e confortada.
Fico a questionar-me.
Serei eu um gajo mau? Serei? Serei??!!