Uma modelo escultural e um zézinho foram os únicos sobreviventes de um naufrágio.
A convivência numa ilha deserta levou a que acabassem por se enrolar mas, passados uns dias, ele começou a andar tristonho e ela resolveu questioná-lo.
- Porque é que andas tão triste, é por estarmos aqui perdidos?
- Não, é por causa de nós – respondeu ele.
- Por causa de nós??!! Mas está tudo a correr tão bem, o sexo é fantástico, somos tão felizes.
- Eu sei, mas mesmo assim…
- Mesmo assim o quê? Diz-me, há alguma coisa que eu possa fazer para te sentires melhor?
- Bem, já que perguntas… tu ficavas chateada se eu te pedisse para te vestires de homem?
Ela não se importava nada e assim fez. Imediatamente a seguir ele sentou-se ao seu lado e perguntou:
- Olha lá, pá, tu sabes quem é que eu ando a comer?!
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Esta anedota traduz na perfeição o que, para mim, é uma das piores facetas dos homens.
Dos homens? Isso julgava eu.
É que a evolução da “condição feminina”, ou seja, a igualdade dos géneros perante a sociedade, o diluir dos preconceitos, revelou-me que as mulheres são perfeitamente capazes de igualar e ultrapassar as piores características masculinas.
E não me entendam mal, a absoluta igualdade sexual é um ideal a atingir. Para mim o corpo não é um lugar de culto e todos devem ser livres de viver a sua sexualidade como bem entenderem, de forma natural, descontraída e livre de acusações das mentalidadezinhas tacanhas que ainda pululam por aí.
A questão é que com a liberdade vem sempre o exagero. Tornou-se moda, para muitas mulheres, afirmarem a torto e a direito que são muito livres e liberais, que fodem com quem bem lhes apetece, que já comeram A, B e C, que este não presta e que aquele é bom, que o fazem apenas pelo sexo, que são muito boas, controlam tudo e todos e não se deixam seduzir.
E fazem-no não no seu círculo de amizades, mas para quem as quer ouvir.
E é ver, por essa blogosfera fora, miúdas com vinte e poucos anos a repetir coisas do género, cheias de certezas, considerando-se profundas conhecedoras do género masculino e sem quaisquer dúvidas relativamente ao que são os homens e ao que estes realmente querem. Declaram-se senhoras de si, dominadoras e inexpugnáveis à dor.
Por um lado acho-lhes graça, rio-me sempre de quem apregoa certezas absolutas sobre si próprio, quanto mais no que respeita ao ser humano, individual ou colectivamente, ou à vida em geral.
Por outro, assalta-me sempre a mesma sensação desagradável que associo à rasquice. Não pelo que fazem, sim pelo que dizem.
Acho de uma enorme pobreza de espírito a necessidade geral de gabarolice, de publicitarem que são os maiores. Quem é verdadeiramente seguro de si não necessita de passar a vida a afirmá-lo.
Sabem, há uma coisa que aprecio imenso: classe.
Quanto ao sexo pelo sexo, sim, sou capaz, todos os corpos sentem e dão prazer, independentemente das emoções.
Mas eu dou valor aos afectos, ao respeito pelo outro, à amizade. Não preciso de me enamorar, mas só me relaciono fisicamente com mulheres com quem sinto genuíno prazer na conversa e na companhia, com quem privaria com gosto, ainda que sem sexo.
E há ainda outra coisa, talvez a mais importante. De cada vez que vou um pouquinho mais fundo na alma de uma dessas mulheres emocionalmente intocáveis, lá descubro o amor escondido, as dores, os traumas e os medos do comum dos mortais.
Dizer? Fazer? Isso é muito fácil.
Difícil é gerir emoções.
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