26
Out07
I, Me, Myself
antídoto
O egocentrismo e o individualismo são, cada vez mais, a imagem de marca dos nossos dias.
Há uma imensidade de gente a afirmar-se orgulhosamente só e a viver com o único objectivo do seu prazer pessoal.
Estou sempre a ouvir e a ler coisas como o meu desejo, o meu ego, a minha auto-estima, o meu objectivo, a minha vontade, o meu tesão, o meu prazer e vou notando que tudo o que possa ser um entrave à obtenção desse prazer linear e imediato é afastado como indesejável.
Os filhos e as crianças em geral são indesejáveis, um impedimento ao prazer.
As relações formais, prolongadas no tempo, não são algo a cultivar, antes uma monotonia e um impedimento ao prazer.
A calma, a simplicidade, o equilíbrio, são um tédio que não proporciona nenhum prazer.
O enamoramento está a cair em desuso e o romantismo é uma tontice de gente banal que não domina o jogo da sedução e a conquista, gente demasiado retrógada para poder gozar o maior dos prazeres, o sexo pelo sexo.
E esta forma de viver a vida associa-se muitas vezes à incapacidade de aceitar uma opinião divergente, ao calculismo permanente relativamente aos outros, à combatividade e conflituosidade exageradas.
Tu, ele, vós, eles? Que se lixem.
.
São melhores, diferentes, únicos, superiores, sabem exactamente o que os outros pensam, sentem e querem. Dominam a cena toda.
.
Farto-me de pecar e sou tudo menos púdico ou conservador.
Nunca critico ninguém, individualmente, pela forma como escolhe viver a sua vida, mas olho-os e sorrio interiormente, sei que o tempo não pára e os vai fazer perceber o essencial.
Ou não.