Apenas pessoas
Tinha o olhar ausente e uma expressão de tristeza profunda no rosto.
Aparentemente não se dava conta da chuva miudinha e dos salpicos trazidos pelo vento gelado, de cada vez que uma onda se desfazia nas rochas.
Pensava nele e na paixão que os unia, no amor incondicional que sentiam um pelo outro há já dois anos.
E rangia os dentes de raiva e revolta por não o poderem demonstrar livremente.
Não poderem assumir a relação estava a tornar-se problemático a todos os níveis.
Via os namorados na rua, de mão dada, a trocarem carinhos, a tocarem-se, a beijarem-se, a viverem livremente as emoções e sentia-se profundamente mal por não poderem, sequer, projectar no futuro uma vida normal, como qualquer ser humano.
Talvez chegasse o dia em que isso fosse possível, por enquanto nem pensar.
Viu-o a aproximar-se, com um sorriso aberto, e o seu mundo iluminou-se.
Pôs-se de pé, abraçaram-se e trocaram um beijo cauteloso.
- Estás bem, João?
- Nem por isso, Pedro, o mesmo de sempre…
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Música: George Michael - Freedom