26
Jan07
Interrogações
antídoto
Quarta-feira, 18 horas
Saio do trabalho muito bem dispostinho, prevejo jantar um bitoque e depois, talvez, um cinema.
Chego ao pé do carro e... Merda, um furo!
Isto é como quando se me acabam os agrafos, calha-me sempre a mim (se bem que só eu uso o agrafador).
Vai de tirar o macaco, a chave de rodas, o pneu suplente, ver que o carro ao lado está tão chegado que mal caibo entre o espaço que resta e usar veementemente o calão todo que aprendi, ao perceber que os parafusos estão tão apertados que vou suar as estopinhas para conseguir mudar a roda.
Quarta-feira, 18 horas e 45 minutos
Mando o pneu furado para a mala do carro, limpo as calças com os pulsos porque as mãos estão mais negras que o meu estado de espírito, dirijo-me a um café a abarrotar de gente para as lavar e, ao olhar-me ao espelho, percebo a linda figura que fiz, tenho um vinco de sujidade (deixemo-nos de maneirismos, era merda mesmo) desde a sobrancelha ao canto da boca.
Quarta-feira, 19 horas
Travo a fundo, à frente da casa dos pneus, grito para o rapaz que está a fechar a porta para ‘aguentar os cavais’ e entrego-lhe o pneu para remendar. Pergunto se não preciso deixar o nome, mas o moço está cheio de pressa e diz que não é necessário.
Sexta-feira, 17 horas e 15 minutos
Entro na casa dos pneus.
- Boa tarde, venho buscar um pneu que deixei cá na quarta-feira.
- Nome?
- Disseram-me que não era preciso deixar o nome.
- E agora como é que quer que a gente descubra a roda? Responde o senhor com maus modos.
- Ó meu amigo, não seja por isso, levo até um novo. E, já agora, chame-me lá o gerente.
Vem o gerente, muito solícito, conversa-se, percebe-se que o rapazinho que me recebeu a roda não está lá hoje, revolvem-se dezenas de pneus – É este? Não. É este, não – e, 40 minutos depois, já eu bufava de impaciência, lá me encontram o dito cujo.
- Olha, afinal não tinha furo.
- Não?! Admiro-me eu.
- Não. Encheu-se, não se encontrou nada, ficou dois dias e não perdeu ar.
- OK, devo alguma coisa?
- Nada, vizinho, tenha um bom fim-de-semana.
- Igualmente.
Saio do trabalho muito bem dispostinho, prevejo jantar um bitoque e depois, talvez, um cinema.
Chego ao pé do carro e... Merda, um furo!
Isto é como quando se me acabam os agrafos, calha-me sempre a mim (se bem que só eu uso o agrafador).
Vai de tirar o macaco, a chave de rodas, o pneu suplente, ver que o carro ao lado está tão chegado que mal caibo entre o espaço que resta e usar veementemente o calão todo que aprendi, ao perceber que os parafusos estão tão apertados que vou suar as estopinhas para conseguir mudar a roda.
Quarta-feira, 18 horas e 45 minutos
Mando o pneu furado para a mala do carro, limpo as calças com os pulsos porque as mãos estão mais negras que o meu estado de espírito, dirijo-me a um café a abarrotar de gente para as lavar e, ao olhar-me ao espelho, percebo a linda figura que fiz, tenho um vinco de sujidade (deixemo-nos de maneirismos, era merda mesmo) desde a sobrancelha ao canto da boca.
Quarta-feira, 19 horas
Travo a fundo, à frente da casa dos pneus, grito para o rapaz que está a fechar a porta para ‘aguentar os cavais’ e entrego-lhe o pneu para remendar. Pergunto se não preciso deixar o nome, mas o moço está cheio de pressa e diz que não é necessário.
Sexta-feira, 17 horas e 15 minutos
Entro na casa dos pneus.
- Boa tarde, venho buscar um pneu que deixei cá na quarta-feira.
- Nome?
- Disseram-me que não era preciso deixar o nome.
- E agora como é que quer que a gente descubra a roda? Responde o senhor com maus modos.
- Ó meu amigo, não seja por isso, levo até um novo. E, já agora, chame-me lá o gerente.
Vem o gerente, muito solícito, conversa-se, percebe-se que o rapazinho que me recebeu a roda não está lá hoje, revolvem-se dezenas de pneus – É este? Não. É este, não – e, 40 minutos depois, já eu bufava de impaciência, lá me encontram o dito cujo.
- Olha, afinal não tinha furo.
- Não?! Admiro-me eu.
- Não. Encheu-se, não se encontrou nada, ficou dois dias e não perdeu ar.
- OK, devo alguma coisa?
- Nada, vizinho, tenha um bom fim-de-semana.
- Igualmente.
Sexta-feira, 18 horas
Saí de lá com duas interrogações em mente:
1ª - Quem foi o filho da puta que se entreteve a despejar-me o pneu?
2ª - O gerente é meu vizinho??!
Saí de lá com duas interrogações em mente:
1ª - Quem foi o filho da puta que se entreteve a despejar-me o pneu?
2ª - O gerente é meu vizinho??!