Continua a discutir-se o sexo dos anjos no que respeita à adopção por casais homossexuais.
Uma sondagem de 2006 refere que apenas 19% dos portugueses concordam com ela.
Os psis são muito cautelosos porque, "no maior interesse da criança", se deve evitar o estigma social que resultaria em ter dois pais ou duas mães, com o correspondente trauma. Sim, claro, hoje em dia é só traumas, temos que ter cuidado.
Convém não esquecer que nada indica que a convivência com pais gay transforme as crianças em gayzinhos. Mas convém, ainda mais, não deixar de procurar provas dessa eventual calamidade. Sim, porque nós somos muito abertos e liberais mas não queremos cá paneleirices.
Entretanto...
O Instituto de Medicina Legal atende, pelo menos, duas crianças por dia, vítimas de abuso sexual, um fenómeno cada vez mais presente ou visível na sociedade portuguesa.
Na esmagadora maioria dos casos, estes crimes são cometidos pelos pais ou família próxima.
O Instituto Português de Apoio à Vítima recebeu, só no primeiro semestre de 2007, 500 participações de violência contra crianças.
Mais de 90% aconteceram no ambiente familiar.
Há no país centenas de crianças institucionalizadas e que nunca serão adoptadas.
E somam-se os casos de maus-tratos, violência e abuso sexual, dentro das instituições estatais ou apoiadas pelo estado.
Ok, estes são pais, tios, primos, educadores, têm legitimidade e não são maricas, as criancinhas ficam bem...
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Porque será que a adopção por casais homossexuais me faz lembrar a história da legalização do aborto?
É que o que não é legalmente possível acontece, cada vez mais, na prática.
Pergunto-me o que é preferível. Pais nenhuns, maus pais, ou pais homossexuais que dêem amor, protecção e educação?
Mas, já se sabe, durante mais uma ou duas décadas vamos continuar, veementemente, a não concordar.
Música: Marlena Shaw - Save the Children