O Dr. *** é Juiz e uma das “forças vivas” da cidade, participando activamente em diversas associações de carácter beneficente.
É uma pessoa informal, boa conversadora e voluntariosa, mostrando-se sempre acessível e interessado, tanto profissional como socialmente.
Simpatizo bastante com o Dr. ***, que não via há mais de um ano.
Há duas noites atrás saí, a seguir ao jantar, para ir tomar um café e quem vejo eu? O Dr. ***.
Aproximei-me para o cumprimentar mas, verificando que estava a falar ao telemóvel, parei a uma distância razoável, para lhe permitir terminar a chamada.
Mas o Dr. *** estava a falar bastante alto, quase a gritar.
- Ah não queres mais?
...
- E achas que basta dizeres?
...
- Eu devia era ter-te dado uns murros nessa tromba, que é o que tu precisas!
…
- Se as tivesses levado, se calhar ainda estávamos juntos, mas deixa estar que não perdes pela demora!
Afastei-me sem cumprimentar o Dr. *** que nem deu por mim.
Conhecem-se as pessoas, conversa-se com elas e não há ninguém que não debite o politicamente correcto.
São todos gente fina e bem formada mas chega um momento de crise e, regra geral, vem ao de cima a verdadeira e obscura natureza de cada um.
Sou capaz de admirar os filhos da puta com personalidade para o afirmarem, esses mostram logo o que são. O que me deixa a ranger os dentes são a maioria de sonsos, demasiado cobardes para assumirem o que efectivamente pensam.
O mesmo Pierre Louys que mencionei no post de 12 de Outubro, tem uma frase significativa:
“Começai pois por respeitar a hipocrisia humana a que também se chama virtude…”
A frase está fora do contexto, o homem até era um contestatário dos costumes, mas uso-a para exemplificar o que continua a ser um lugar comum nas relações humanas que me irrita e de que maneira.
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É que o mundo está cheio de deformados mentais que usam, abusam e agridem durante e após o fim das relações amorosas. Que ignoram ou, pior ainda, usam os filhos como arma contra o objecto das suas frustrações e ódios.
Cada vez mais se noticiam homicídios resultantes da incapacidade dos coitadinhos em aceitarem serem deixados.
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E essa gente vive entre nós, são pessoas aparentemente 'normais', algumas cheias de medalhas e exemplos de bons princípios.
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Simpatizava bastante com o Dr. ***.
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