O olhar da serpente
É conhecida a história de dois indivíduos que passeavam, durante a noite, num local desconhecido, quando, de repente, um deles cai no que parecia ser um buraco.
O outro muito aflito - Epá, magoaste-te?
- Não.
- Então porque é que não sobes?
- Ainda estou a cair.
Vem isto a propósito dos abismos desta vida e da tendência de muitos de nós para nos lançarmos repetidamente neles.
Sabemos que está ali, que sofremos de vertigens, que não queremos cair, mas, em vez de nos afastarmos, passamos a vida a piquenicar mesmo na bordinha e catrapum, lá nos magoamos.
Alguns aprendem com as quedas, passam a preferir as grandes planícies, os rios calmos, a sombra acolhedora, outros, muitos, mantêm o circulo vicioso que os impede de conquistar a serenidade interior e a felicidade possível, permane- cendo como que hipnotizados pelo olhar da serpente.
Abismos e serpentes existem por todo o lado.
Evito os primeiros e esfolo as segundas. Quando menos esperam.